Sabe eu sempre fui uma pessoa que pedia desculpa para tudo. Esbarrei em alguém,? Pede desculpa. Alguém entendeu errado o que eu disse bem explicadinho? Pede desculpa. Tropecei no sofá sem querer? Pede desculpa (para o sofá).
Eu achei que essa era uma coisa só minha, mais um da minhas peculiaridades. Que era fruto de ser tão desastrada e super-focada ( quando eu foco numa atividade o resto desaparece e e isso me deixa desatenta para o resto das coisas).
Mas lendo um pouco mais sobre feminismo acabei descobrindo uma coisa: pedir desculpa para tudo e todos não era uma peculiaridade minha, e até me sentir super desajeitada também não.
A noção de que, nós , mulheres, não somos adequadas, estamos sempre atrapalhando é antiga e se perpetua sem a gente perceber.
A gente tem de ter muito cuidado com o que fala para que ninguém nos interprete "errado", porque o julgamento que eles fizerem será culpa nossa.
Se alguém fala uma babaquisse machista numa mesa de bar, é você que tem pedir desculpa porque ficou constrangida.
A gente tem de ter muito cuidado com o que vai dizer para os homens em nossa vida, porque eles tem egos muito frágeis e podem ficar feridos e nunca mais querem saber de você se acharem que você sabe mais o que eles em física ou futebol.
Eles também podem ficar feridos se descobrirem que você tem uma libido e quer mais sexo, ou sexo diferente. Ou que ele pode melhorar no sexo oral. Por isso você tem de pedir desculpas para falar sobre isso ou simplesmente não falar.
Ah, você também pode fingir orgasmo e aí vai ter que pedir desculpa se ele descobrir.
E é culpa sua se ele te trair, você deve ter feito alguma coisa errada para ele procurar lá fora.
A gente tem de pedir desculpa pelo que fez, pelo que não fez, e pelo que outro fez também. Porque ele não faria se não tivéssemos feito algo errado, se não tivéssemos provocado. É a ideia que o quanto de pele que deixamos a mostra que provoca piadas sem graça e estupros. Não a falta de controle a maldade e crueldade de quem pratica estes atos. De que a culpa é nossa pelo bulling: nós é que não nos enturmamos, não melhoramos, somos esquisitos. Não os outros que não aceitam a diversidade, gostam de humilhar, não aprenderam a respeitar os outros.
É a ideia de que achar que uma mulher não é boa em ciência, é culpa das próprias mulheres que não tem vocação e insistem em se vestir de rosa (como se uma coisa tivesse a ver com outra) e não de um sistema que já diz de cara que aquilo não é coisa "de menina" e que continua as desqualificar mesmo quando elas já são pesquisadoras com mestrado, doutorado e tudo mais
(http://lugardemulher.com.br/mulheres-na-ciencia-por-que-tao-poucas/
http://lugardemulher.com.br/machismo-na-ciencia-ataca-novamente/)
É considerar que se acontece um envolvimento amoroso homem-mulher no ambiente de trabalho, e isso atrapalha a produtividade, isso é culpa da mulher por está lá (e não dos dois ou de ninguém). Afinal se ela não lá tivesse o homem continuaria concentrado. Ninguém pensa que se ele não tivesse ela é que não teria se metido nisso.
Nós temos que ser filhas perfeitas, estudantes perfeitas, namoradas perfeitas, mães perfeitas, mulheres perfeitas. E se algo der errado a culpa é nossa, só nossa.
Está na nossa cabeça que nós devemos ser "boas mocinhas" e não causar problemas. E por algum motivo a gente acaba assumindo a culpa por todos os problemas do mundo.
Eu não sei exatamente como isso começou na minha vida (ah... talvez até tenho uma dica ou outra). Mas eu tenho certeza que não quero que continue. Eu não quero ser assim e não quero ensinar a minha filhar que ela tem de pedir desculpa por existir, por respirar e roubar oxigênio dos outros.
Eu quero que ela sinta que se ela veio ao mundo ela merece estar aqui e que ela não é inadequada ou incômoda simplesmente porque nasceu mulher.
Abaixo segue um vídeo que pode nos ajudar a reajustar a forma de lidar com tantas desculpas.
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